Homem anda 170 km e reencontra filha após quase um mês desaparecido: 'Medo de estar morto'

Por Leticia Gomes, G1 Santos 02/05/2021 - 10:15 hs
Foto: Divulgação/Prefeitura de Itanhaém
Homem anda 170 km e reencontra filha após quase um mês desaparecido: 'Medo de estar morto'
Pai e filha se reencontraram graças a caderno do neto que ele levava

Uma filha reencontrou o pai, que estava desaparecido havia quase um mês, após ele ser localizado em Itanhaém, no litoral paulista. Segundo a prefeitura, Severino Gonzaga da Silva, de 55 anos, percorreu cerca de 170 km a pé, da cidade onde mora até o município. O homem chegou a ter ferimentos nos pés devido ao tempo que caminhou. Ele foi encontrado por equipes da Assistência Social, que conseguiram achar a família graças a um caderno do neto que ele carregava. O reencontro foi registrado em vídeo pelos servidores.

“Tinha medo de ele estar morto, procurava, gritava, chorava muito, e coloquei foto dele em todos os lugares. Foi um desespero”, define a filha, Laura Cristina Aparecida da Silva, de 25 anos.

Moradora de Várzea Paulista, cidade do interior do estado, Laura explica que o pai tem problemas com alcoolismo, e já chegou a ficar desaparecido por três dias. Porém, desta vez, ele ficou 26 dias sem dar notícias, fazendo com que a filha mobilizasse amigos e parentes para encontrá-lo.

Filha encontra pai em Itanhaém após homem desaparecer e se deslocar 170 km a pé
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Laura colocou a foto do pai nas redes sociais e pediu ajuda à imprensa da cidade onde mora. Ela chegou a descobrir que havia um corpo no Instituto Médico Legal (IML) de Várzea Paulista no dia do desaparecimento do pai, mas não houve a necessidade de ir até o local.

Maria Janete Andrade, assistente social do Centro de Referência para Pessoas em Situação de Rua de Itanhaém (Centro Pop), conta que o homem foi encontrado em uma praça da cidade, na sexta-feira (30), no bairro Gaivota, por uma equipe treinada para abordagens. Ele estava um pouco confuso, e foi convencido pelos profissionais a seguir até o equipamento com eles até o equipamento.

No local, ela passou a acompanhar o caso e tentar ajudá-lo. "Ele falou o nome dos filhos, dos netos, mas estava um pouco confuso. Perguntei o que tinha em uma sacola que ele carregava. O Severino me disse que eram só latinhas, e eu pedi para ver. Quando abri, encontrei um caderninho do neto dele, cheio de telefones e uma foto da filha amassada. Quando ele me falou o nome dela, começou a chorar", relembra.

Os telefones eram antigos, mas ela decidiu que encontraria a família. Após diversas ligações e falar com vários conhecidos, conseguiu conversar com Laura. O momento foi de muita emoção para ambas. "Ela chorou muito e falou que Deus me colocou para ligar para ela", relembra. Maria conta que, no local, Severino tomou banho e se alimentou. Ele informou que percorreu o caminho a pé, e a equipe viu os cortes e feridas nas solas, causadas pelo esforço.

Ainda na sexta, ela fez uma chamada de vídeo com a filha, que decidiu buscar o pai neste sábado (1º), contando com a ajuda de amigos e familiares. "Ninguém tinha visto meu pai, ninguém sabia de nada. Quando a Maria me ligou, e na hora que eu o vi, chorei muito, e só agradecia a Deus", desabafa Laura. A filha ainda explica que o pai foi para a cidade porque, há alguns anos, eles moravam lá, e ele sempre falava que queria voltar.

O reencontro foi marcado por muita emoção, e a filha pode ver a foto e o caderno guardados pelo pai. Após mobilizar algumas pessoas, ela conseguiu levá-lo de volta à cidade onde moram. O caso, explica Maria, foi especial mesmo para ela, que atua há anos na assistência social. "No meio da pandemia, em que vemos muito egoísmo, tudo o que ela fez para encontrar o pai, o carinho e o cuidado, isso me chocou e emocionou muito", conta.

Laura agradeceu a mobilização e a chance de ver o pai de volta e bem. "Agradeço e permaneço com muita fé. Isso ajudou a trazer meu pai de volta", finaliza.