Auxílio e queda de braço com Centrão causam debandada

Por Redação OP+ 23/10/2021 - 08:34 hs
Foto: Divulgação
Auxílio e queda de braço com Centrão causam debandada
Ameaça de furo no teto de gastos gerou

Manobras puxadas pelo Centrão para driblar o teto de gastos, somadas a anúncios de novas despesas para tentar "levantar" a popularidade do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), provocaram ontem verdadeiro "efeito dominó" na equipe de Paulo Guedes. Pela tarde, deixaram o governo alguns dos principais assessores técnicos do Ministério da Economia.

Ao todo, pediram exoneração da pasta o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, e o secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt. Além deles, também deixarão a pasta os adjuntos das secretarias, Gildenora Dantas e Rafael Araújo. Em todos os casos, foram alegadas "razões de ordem pessoal".

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, antes de anunciar sua exoneração, Bruno Funchal reuniu sua equipe e principal auxiliares, e disse não possuir mais condições de continuar no cargo, por "questões de princípio" envolvendo a manutenção do teto de gastos.

"A decisão de ambos é de ordem pessoal. Funchal e Bittencourt agradecem ao ministro pela oportunidade de terem contribuído para avanços institucionais importantes e para o processo de consolidação fiscal do país", diz nota do Ministério da Economia.

Os pedidos de demissão ocorreram horas após Guedes confirmar o pagamento do novo Auxílio Brasil, em R$ 400, até o fim de 2022. A concessão do benefício exigirá, além da possível rolagem da parte de dívidas de precatórios, uma alteração da regra do teto de gastos ou até a criação de uma "licença" para gastar além do limite previsto.

Paralelamente, o Planalto teria acertado uma mudança no cálculo do teto, que abre brecha de R$ 83,6 bilhões para gastos adicionais em 2022, ano em que Bolsonaro buscará a reeleição.

No mercado, a fala de Guedes foi vista como uma "rendição" da equipe econômica, que até então resistia a furar o teto apesar de pressões do Congresso e da ala política do Planalto. "A forma de fazer isso é a política que decide. A economia já deu a sua sugestão. O presidente pediu um pouco mais, nós temos que ajudar a viabilizar isso", disse Paulo Guedes.

Mais cedo, Bolsonaro também causou apreensão no mercado após anunciar - sem explicar a origem dos recursos - um auxílio de R$ 400 para caminhoneiros, como forma de compensar a alta do diesel no País. O benefício não foi bem recebido nem por representantes da categoria, que classificaram o valor como "esmola".

A fala ocorreu dias após o presidente afirmar em entrevista que "ninguém (do governo) vai furar o teto". As palavras, no entanto, foram recebidas por analistas como "malabarismo retórico" do presidente.

Os anúncios, somados à aprovação na última terça-feira, 19, de um "vale-gás" pelo Senado Federal, acabam reforçando a imagem de que é o Centrão quem comanda hoje a economia do país. Nas últimas semanas, lideranças do grupo - principal bloco de sustentação do governo no Congresso - têm defendido o aumento de gastos e o Auxílio como única "boia de salvação" para o governo diante do aprofundamento da crise política.

A debandada na Economia provocou intensa reação ontem no Congresso, com deputados cobrando a saída de Guedes. "Lamentável ver que os críticos da história nada aprenderam com ela. Regras fiscais são para ser cumpridas, que o diga Dilma Rousseff. Não dá pra aceitar que o comando do país fique todo o tempo ensaiando jogar fora das quatro linhas", disse o vice-líder do PSD no Senado, Carlos Fávaro (MT).

"Essa debandada do Ministério da Economia mostra a derrocada e a falência do governo. A economia está entregue a um vendedor de ilusões, que promete o céu e dá o inferno. Só as forças conservadoras do mercado mantêm esse ministro Paulo Guedes", disse o vice-líder da minoria na Câmara, José Guimarães (PT-CE). 

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