Argentino comprou vagão de metrô pela internet e o transformou em casa

Por Lucila Runnacles Colaboração para Nossa 15/05/2023 - 15:45 hs
Foto: Arquivo pessoal
Argentino comprou vagão de metrô pela internet e o transformou em casa
Emiliano pesquisou na internet sobre vagão e o comprou

Já pensou passar uma noite dentro de um vagão de metrô com todo o conforto de um hotel ou dormir em um ônibus antigo no meio da natureza?

Alguém já pensou nisso e criou um alojamento um tanto inusitado a menos de uma hora de distância de Buenos Aires, na Argentina.

A Casa Giramundo (@casagiramundo) é um lugar bem diferente onde o lema é: "Se você entrar estressado vai sair descansado".

Durante a pandemia, o argentino Emiliano Giramundo (que prefere usar esse sobrenome), comprou um vagão de metrô pela internet como sucata e realizou o que muita gente pensava que seria impossível, colocou o veículo no meio da mata e transformou em hospedagem.

"Trabalhamos cerca de um ano neste projeto com a ajuda da minha esposa, cunhados e amigos. Aqui tudo foi reaproveitado e alguns materiais ganharam uma segunda vida", conta Emiliano que adora restaurar e reutilizar objetos.

O alojamento fica no município de Tigre (a 30 quilômetros de Buenos Aires). A cidade é muito procurada nos fins de semana por ser uma espécie de refúgio dos portenhos que querem relaxar e curtir um lugar tranquilo no meio da natureza e ao lado do Rio Luján.


Dos trilhos para o meio do mato

O vagão amarelo rodou durante 50 anos pelos trilhos da capital argentina levando e trazendo passageiros. Essa antiga locomotora foi fabricada na Espanha em 1963 e aguentou firme até 2013, quando foi retirada de circulação.

Do lado de fora ele continua quase igual. Mas quando as portas se abrem é que a mágica acontece. Esse vagão de 16 metros de comprimento e dois metros de largura tem espaço para receber até quatro pessoas com todo o conforto.

A casa tem tudo o que é possível encontrar em um hotel. A disposição dos 'cômodos' é toda aberta; a cama fica ao lado da sala de estar e ao lado fica a cozinha totalmente equipada. O vagão também tem banheiro e a vista que se tem dali é linda, rodeada de natureza.

No verão tem ar condicionado e para aquecer os dias de inverno tem até uma lareira a lenha. E para quem não consegue ficar um dia sem conexão com o mundo virtual, pode ficar tranquilo porque o alojamento também conta com wi-fi.

Mantendo a identidade

Dentro do vagão, o mapa das linhas portenhas ainda está desenhado e faz parte da decoração. O chão e as lâmpadas que estão no teto são originais. Detalhes que nos transportam para outra época.

Do lado de fora, além de muitas árvores e arbustos, os hóspedes também podem curtir a piscina, tomar sol no deck, fazer um churrasco e nadar no rio que é uma das maiores atrações da redondeza.

Passar uma noite no metrô ou no ônibus custa US$ 50 por dia (cerca de R$ 248) e o mínimo são duas noites de hospedagem. O estabelecimento fica aberto o ano todo e cada estação tem o seu encanto.

Quase como no filme

Mas o vagão de metrô não está sozinho. Caminhando pela propriedade encontramos também um ônibus americano antigo, de 1946.

Ali dentro uma cama de casal com luzes suaves convidam a deitar em silêncio e olhar as estrelas através dos vidros. Qualquer semelhança com o filme "Na Natureza Selvagem" (2007) não é mera coincidência.

"Também comprei como sucata e transformei em hospedagem. O ônibus foi fabricado depois da 2ª Guerra Mundial. Como nessa época sobrava muito alumínio nos Estados Unidos, o veículo é todo feito de alumínio, um material super nobre e de ótima qualidade", explica.

O ônibus é perfeito para duas pessoas e pode receber até três visitantes. Uma das maiores atrações é sentar no volante original e tirar uma foto. Tanto é que o próximo passo vai ser colocar uma caixa com uma fantasia de hippie para quem quiser se transportar para os anos 1970.

Emiliano diz que muitas pessoas que se hospedam no "magic bus" se lembram do filme dirigido por Sean Penn inspirado na história real de Christopher McCandless, que viajou até o Alasca no início dos anos 1990 e viveu a bordo de um ônibus abandonado.

Nada se perde, tudo se transforma

Adaptar um veículo em alojamento não foi tarefa fácil e vários detalhes foram levados em conta. Muitas plantas foram colocadas no teto do ônibus para reduzir a temperatura lá dentro. Com a ajuda do "telhado verde" e de uma barreira de isopor, os raios solares já não chegam com tanta intensidade.

A parte do banheiro e do encanamento também foi um desafio porque foi difícil fazer os furos e as conexões para a passagem da água.

Sustentabilidade é o lema desse estabelecimento. Dentro do ônibus os bancos antigos do metrô foram parar ao lado da mesa de refeições. As barras de metal onde as pessoas se seguram foram reutilizadas para criar outros móveis e também ganharam outra vida no exterior.

Uma das partes mais especiais é o banheiro que fica na parte de trás e tem a parede toda de vidro. Tomar banho olhando esse verde é garantia de paz e aconchego.

Apertem os cintos

Depois do ônibus e do vagão, ele ainda quer mais: seu próximo sonho é comprar um avião antigo e também transformar em um pequeno hotel.

"Já tenho tudo planejado na minha cabeça. Não vai ser fácil mas quando a gente faz o que gosta é impossível que as coisas não saiam bem", acredita.

Emiliano, que já morou no Brasil e foi dono de uma pousada, diz que seu lugar agora é no Tigre.

Antes eu trabalhava no centro de Buenos Aires e não tinha muito tempo para estar com a minha família. Hoje em dia aprecio cada minuto porque ter a sorte de trabalhar em casa e compartilhar tempo com meu filho e minha esposa é a coisa mais valiosa que tenho".

Talvez também fosse isso o que buscava o protagonista de "Na Natureza Selvagem" quando escreveu: "Felicidade só é real quando compartilhada".

Como chegar

A Casa Giramundo fica em Tigre, um município que está a 30 quilômetros de Buenos Aires. É possível chegar de trem, a viagem é confortável e dura cerca de uma hora. Logo, da estação de Tigre é preciso pegar um Uber ou táxi (cerca de 15 minutos) até o alojamento que fica em Villa La Ñata.