Homem gay é dopado, tem suástica desenhada no rosto e corpo cortado em MG

Por Karine Pires 15/07/2021 - 10:59 hs
Foto: Reprodução
Homem gay é dopado, tem suástica desenhada no rosto e corpo cortado em MG
Além de desenho com apologia ao nazismo, grupo escreveu ameaça de morte na barriga da vítima

Um homem gay foi atacado por quatro pessoas dentro de um estabelecimento em Itaguara, interior de Minas Gerais. O grupo entrou no comércio, que é administrado pela vítima, ameaçou o homem e injetou uma substância em seu corpo que o deixou desacordado. Ele sofreu cortes pelo corpo, da lombar até as nádegas, e teve uma suástica desenhada em seu rosto, além de uma ameaça redigida na barriga: "Na próxima você morre".

O homem foi hospitalizado no Hospital Santa Casa de Misericórdia do município, mas teve alta após serem feitos curativos para os ferimentos.

Os crimes foram cometidos após a vítima atender ao último cliente de sua lan house, que funciona no mesmo terreno de sua residência. O homem foi abordado, ameaçado e dopado por uma injeção no pescoço, segundo a polícia.

Quando acordou, a vítima viu ferimentos e desenhos em seu corpo, além de manchas de sangue pelo chão. Em depoimento às autoridades, ele disse acreditar que a motivação do crime seja homofobia, pois no dia anterior foi hostilizado em uma praça da cidade pelo mesmo grupo de homens que o atacou.

Ao UOL, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que um inquérito foi instaurado para investigar o crime de lesão corporal.

"A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito policial para investigar o crime de lesão corporal, registrado nesta terça-feira (13), em Itaguara. Após os fatos, a vítima foi encaminhada para atendimento médico e, a princípio, não há testemunha que possa colaborar com informações. A investigação tramita na 9ª Delegacia de Polícia Civil em Itaguara, onde os trabalhos investigativos estão em andamento para apurar as circunstâncias, o motivo e a autoria do crime. Outras informações serão repassadas em momento oportuno, para não atrapalhar o andamento da investigação", diz a nota.

A reportagem questionou a PCMG sobre o inquérito ser apenas por crime de lesão corporal, já que há indícios de homofobia e apologia ao nazismo, além de ameaça. A corporação argumentou que a "ocorrência foi registrada, a princípio, como lesão corporal, mas que não descarta nenhuma linha investigativa."

Apesar de saber que se trata do mesmo grupo que o hostilizou pouco antes do crime, a vítima não sabe mais características que ajudem na localização dos suspeitos, que até o momento ainda não foram identificados. A substância aplicada em seu corpo também não foi revelada até o momento.

Entenda as leis

Segundo a advogada Bruna de Andrade, CEO da "Bicha da Justiça" - startup que presta assessoria jurídica à população LGBTQIA+ - o que configura crime de homofobia ou LGBTfobia é um crime de ódio direcionado a pessoas em razão da sexualidade ou da identidade de gênero deste grupo.

O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou em 2019, a criminalização da homofobia e da transfobia. Atos preconceituosos contra pessoas LGBTQIA+ são enquadrados no crime de racismo pela Lei 7.716/1989 até que o Congresso Nacional aprove uma lei específica sobre o assunto. A pena para quem comete o crime é de três anos, além de multa.

É considerado crime:

  • Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito por orientação sexual
  • Divulgação ampla de ato homofóbico em meios de comunicação, como publicações em redes sociais. Neste caso, a pena é de dois a cinco anos, além de multa;

Além da homofobia, há evidências de apologia ao nazismo no caso: práticas que estimulam ou vangloriam o regime nazista na Alemanha, período em que negros, homossexuais e judeus eram perseguidos pelo regime político no país.

No Brasil, esta prática é considerada crime e também se enquadra na Lei 7.716/1989 de racismo. Dentro da lei, é prevista a pena de reclusão por dois a cinco anos para quem "fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo".

Segundo Bruna, ela entende que houve sim a existência de outros crimes no caso e não só de lesão corporal. "Eu entendo que sim. É crime de LGBTfobia, crime de ameaça e de lesão corporal - esta, por sua vez, teria uma questão agravante, pois seria por motivação homofóbica", disse ela.