Ciro reorganiza estratégia e vende disruptura para se diferenciar

Por Joelmir Tavares 27/06/2022 - 08:59 hs
Foto: Reprodução/UOL
Ciro reorganiza estratégia e vende disruptura para se diferenciar
O pré-candidato a Presidência pelo PDT, Ciro Gomes durante sabatina promovida pela Folha e pelo UOL

O presidenciável Ciro Gomes (PDT) fez ajustes no discurso de campanha para reforçar a ideia de que é o mais indicado para fazer o que descreve como disruptura necessária para o país. Na tentativa de deixar o terceiro lugar nas pesquisas, ele busca para si o papel de candidato antissistema.

Com oscilações apenas dentro da margem de erro desde março no Datafolha, o ex-ministro marcou 8% no levantamento divulgado na quinta-feira (23), mas diz acreditar ser possível transpor a muralha representada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

O pedetista compara a soma de 75% de intenções de voto obtida pelos dois líderes da corrida no primeiro turno a uma barragem com rachaduras. Pela analogia, a represa pode se romper graças aos eleitores de ambos que mais cedo ou mais tarde repensarão sua decisão.

Muito conhecido (86% sabem quem ele é) e com o terceiro maior índice de rejeição (24% não votariam nele de jeito nenhum), Ciro aposta no trabalho de João Santana, ex-marqueteiro do PT, para deslanchar no período oficial de campanha, entre agosto e o início de outubro.

Ciro prega a derrubada do tripé macroeconômico e não vê perspectiva de isso ocorrer com o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto. Lula já manifestou vontade de manter Campos Neto no posto caso saia vitorioso. Já o pedetista diz que revogará a autonomia da instituição.

O presidenciável do PDT promete ainda um tratamento diferenciado ao Congresso, com uma relação eminentemente técnica, em torno de projetos, e menos de costuras políticas. Fala em repelir negociatas, conchavos e outros meios vistos por ele como intimamente ligados à corrupção.

Em seu eventual governo, a interação com o Parlamento também seria afetada pelo fim das emendas de relator e pela ideia de encaminhar "as grandes decisões" do país via plebiscitos e referendos populares. Elas seriam votadas "diretamente pelo povo", substituindo funções do Legislativo.

A resposta dele às críticas é a de que, na hipótese de atravessar a barreira vigente e ser ungido o condutor de um novo sistema, começará o mandato com força política imensa. Em sua ótica, o fenômeno arrastaria junto bancadas alinhadas a seu projeto e inibiria pressões do Congresso sobre o Planalto.

O plano seria consultar a população já no primeiro semestre sobre, por exemplo, uma reforma tributária. Outra transformação que anuncia é a promessa de não tentar a reeleição.

Sua campanha, em nota à Folha, diz que ele "é o único pré-candidato que apresenta propostas claras de mudanças" e que "não é fácil pedir a um pedaço do sistema" que participe da própria metamorfose.

O comitê diz que a mensagem de Ciro como igualmente oposto a Lula e Bolsonaro já atingiu um bom patamar de fixação e continuará sendo explorada, mas "vai se consolidar ainda mais à medida que diminuam a dispersão e o desinteresse do eleitor com relação às eleições".

O entendimento da campanha é o de que a prioridade agora é difundir ao máximo o discurso e as propostas, já que a expectativa é que "a barragem se rompa à medida que o pleito se aproximar".

Pelo diagnóstico dos estrategistas de Ciro, a maioria dos brasileiros, inclusive parte dos que dizem apoiar Lula e Bolsonaro, anda insatisfeita com o atual modelo político. Muitos, porém, estariam na fase intermediária, de "saberem apenas o que não querem", sem clareza do que realmente desejam.

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