Adolescente de 16 anos morre após tomar soda cáustica por engano em SP

Por Maurício Businari 14/01/2023 - 09:02 hs
Foto: Arquivo Pessoal
Adolescente de 16 anos morre após tomar soda cáustica por engano em SP
Heitor Santos Poncidonio, 16, contou à família antes de morrer que pediu água em um estabelecimento

Um adolescente de 16 anos morreu em Guarujá, litoral de São Paulo, após ter bebido soda cáustica de uma garrafa em um pequeno comércio no bairro Jardim Monteiro da Cruz. Segundo a família, o jovem teria pedido água ao dono do estabelecimento, que teria dado uma garrafinha com o líquido para que ele bebesse.

O caso ocorreu no dia 1° de dezembro e o jovem Heitor Santos Poncidonio precisou ser internado às pressas. Liberado pelos médicos no dia 12 daquele mês, ele piorou no último sábado (7) e acabou morrendo na segunda-feira (9), enquanto era atendido em outro hospital. O caso foi registrado no 2° DP da cidade como lesão corporal, com comunicação posterior de óbito.

Em entrevista ao UOL, Eduarda Cristina Poncidonio Costa, prima da vítima, disse que Heitor morava com ela, a madrasta e a avó em uma casa no bairro Pae Cará. No dia 1° de dezembro, ele estendia roupas no varal, no quintal da casa, quando a avó pediu que ele fosse até uma lojinha próxima para comprar cloro e desinfetante.

"Ele pegou a bicicleta e foi até a loja, que fica a uns dois quilômetros de distância daqui de casa. Quando ele estava lá, meu pai, que mora pertinho, por coincidência foi até essa mesma loja comprar luvas quando viu ele caído lá dentro e correu para ver o que estava acontecendo", conta Eduarda.

Ela diz que, segundo seu pai, Heitor já estava desmaiado, e, perto de sua mão, havia uma garrafinha de plástico leitoso branco. À polícia, de acordo com o boletim de ocorrência, o comerciante alegou que o jovem "apanhou uma garrafa com soda cáustica que estava depositada junto ao solo e ingeriu seu conteúdo, vindo então a passar mal, sendo socorrido por um popular que se encontrava pelo local".

A versão, porém, contradiz o que Heitor contou à família, após receber alta do Hospital Santo Amaro, para onde foi levado às pressas pelo tio, com a ajuda de uma pessoa que passava de carro pelo local.

"Ele disse que deram a garrafa para ele com o líquido quando ele pediu água porque estava com sede. Ele contou que colocou na boca e engoliu um pouco, quando sentiu um gosto estranho e uma ardência nos lábios. Ele então cuspiu o resto que estava na boca, mas começou a se sentir mal e caiu no chão", contou Eduarda. "O relato dele está gravado".

Aos policiais militares, chamados por vizinhos do estabelecimento, o proprietário e um funcionário confirmaram a versão de que Heitor teria apanhado por conta própria a garrafinha e bebido o líquido. A descoberta sobre o produto químico teria sido feita pela equipe médica do hospital Santo Amaro.

Em nota, a unidade afirmou que Heitor apresentava "lesões compatíveis com ingestão de soda cáustica" e foi internado para realização de endoscopia de urgência. "Após o exame permaneceu internado na unidade hospitalar para tratamento e dieta. Paciente permaneceu no local até o dia 12 de dezembro de 2022, mantendo-se estável, tendo recebido alta hospitalar e médica".

O UOL tentou contato com a loja de produtos de limpeza, mas ninguém atendeu ao telefone do estabelecimento ou respondeu à mensagem enviada via Facebook.

Recuperação aparente

Eduarda afirma que a família estranhou a alta dada ao jovem pelos médicos. Afinal, Heitor ainda estava muito magro, debilitado, sem conseguir se alimentar por via oral. Porém, com o passar dos dias, e uma dieta com frutas e alimentos líquidos, ele parecia se recuperar. "Chegou até a jogar bola com os amigos na porta de casa", comentou. "Mas ele tinha algo estranho no olhar, eu sabia que, no fundo, ele sentia dores, mas escondia porque a mãe dele, minha tia, é cardíaca, está adoentada e ele não queria preocupá-la".

No último sábado (7), o quadro de saúde de Heitor piorou muito depressa e ele mal conseguia ficar em pé. No mesmo dia, foi levado à Casa de Saúde do Guarujá, onde permaneceu internado. Na segunda-feira, após uma endoscopia, ele sofreu, segundo Eduarda, uma parada cardiorrespiratória, foi levado à UTI, mas não resistiu e morreu.

"Nós estamos arrasados. Minha avó se sente culpada de ter pedido para ele ir comprar os produtos. Eu sinto muitas saudades dele, ele era um menino muito bonzinho, ingênuo até, estava se preparando para se tornar técnico em informática. Fazia aniversário no mesmo dia que eu. Esperamos que a justiça seja feita agora. Não é possível que esse senhor (o proprietário do comércio) fique impune", afirmou Eduarda.

Em nota, a Casa de Saúde do Guarujá afirmou que "O hospital não divulga informações de pacientes sem autorização dos familiares".

Segundo a Polícia Civil, o óbito da vítima foi acrescentado ao registro de ocorrência original, em terceira edição, cuja natureza definitiva será declarada pela conclusão do inquérito policial instaurado pelo 2° DP de Guarujá. Agentes estiveram no local para buscar imagens da câmera de monitoramento do comércio e descobriram que elas não funcionam. A garrafa com o líquido ingerido pelo jovem não foi encontrada. Um vasilhame similar foi fotografado para inclusão aos autos.

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