Governo do Ceará “perdeu a mão” na segurança pública: facções controlam bairros e conjuntos habitacionais
Violência avança na capital e interior; disputa entre grupos rivais causa pânico no Conjunto Cidade Jardim I, em Fortaleza
A sensação de insegurança voltou a crescer entre os cearenses. Enquanto o Governo do Estado promete reforçar as ações de combate à criminalidade, moradores da capital e do interior denunciam que as facções continuam ditando as regras em várias regiões, impondo toque de recolher, expulsando famílias e desafiando a presença policial.
O episódio mais recente ocorreu nesta sexta-feira (17), no Conjunto Habitacional Cidade Jardim I, em Fortaleza, onde uma nova disputa entre facções rivais transformou o bairro em cenário de medo e tensão. Moradores relatam tiroteios, ameaças e ordens para deixar suas casas, numa escalada de violência que expõe, mais uma vez, a fragilidade do sistema de segurança pública do Ceará.
Famílias saíram de casa após ameaças. — Foto: Reprodução
“O governo perdeu o controle”
Lideranças comunitárias e moradores afirmam que o Governo do Estado “perdeu a mão” na condução da política de segurança, permitindo que grupos criminosos se fortalecessem em áreas antes pacificadas.
“Hoje quem manda é o crime. Aqui não entra viatura, não entra ambulância. A gente vive com medo de sair de casa”, relatou uma moradora do Cidade Jardim, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
A situação, segundo especialistas em segurança pública, é reflexo de uma disputa territorial entre as principais facções que atuam no Ceará, que têm se expandido tanto na Região Metropolitana de Fortaleza quanto em cidades do interior.
Ruas ficaram desertas em Uiraponga; moradores deixaram local após ameaças de chefes de facção — Foto: TV Globo/Reprodução
Interior também sofre com expulsões
No interior, comunidades inteiras estão sendo expulsas por ordem do crime organizado. Casos foram registrados nos últimos meses em municípios das regiões do Cariri, Sertão Central e Vale do Jaguaribe, onde famílias abandonam casas e comércios após ameaças diretas de grupos rivais.
As polícias têm dificuldade de conter os conflitos, especialmente em áreas rurais ou mais isoladas, onde o efetivo é reduzido e a logística de operação é precária.
Promessas não cumpridas
Apesar de anúncios recentes do Governo do Ceará sobre reforço de efetivos e investimentos em tecnologia, os índices de homicídios e conflitos armados permanecem altos.
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), houve aumento nos casos de confrontos armados e ameaças de expulsão em 2025, mesmo com operações ostensivas da Polícia Militar e da Polícia Civil em curso.
Analistas afirmam que a falta de integração entre as forças de segurança, aliada à ausência de políticas sociais efetivas nas áreas mais vulneráveis, agravou o problema.
Clamor por resposta
Enquanto o governo evita falar em crise, cresce a pressão popular por medidas mais duras. Nas redes sociais, o termo “Ceará sem comando” ganhou força nos últimos dias, com relatos de moradores de diversos bairros denunciando a atuação de facções e a ausência do Estado.
A oposição na Assembleia Legislativa também cobra explicações do governo Elmano de Freitas (PT) e questiona a eficácia do atual modelo de segurança pública.
“O que está acontecendo é muito grave. Não se trata apenas de estatísticas, mas de vidas e de territórios tomados pelo medo”, declarou um deputado de oposição.
Enquanto o governo promete novas estratégias e operações, o cotidiano de milhares de cearenses segue marcado pelo medo. A disputa no Cidade Jardim I é apenas mais um retrato de um problema que se espalha pelo estado e desafia o poder público.
No Ceará, onde a violência parece ter deixado de ser exceção para se tornar rotina, a sensação é de que o Estado perdeu o controle — e o cidadão, o direito à paz.
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