O vexame de Elmano em Juazeiro e os sinais que o povo está enviando
O vexame de Elmano em Juazeiro e os sinais que o povo está enviando
O episódio vivido pelo governador Elmano de Freitas (PT) neste fim de semana, em Juazeiro do Norte, não pode ser tratado apenas como um “desencontro de agendas” ou uma falha pontual na mobilização. O fiasco do evento que marcaria o lançamento da Carreta da Saúde "Agora Tem Especialistas" escancarou um sintoma político que o governo do Ceará parece não querer enxergar: há um desconforto crescente da população com a política de vitrine e a força da máquina não está mais garantindo audiência espontânea.
Não faltaram esforços institucionais. Deputados estaduais e federais compareceram. Prefeitos da região, como André Barreto, do Crato, foram chamados às pressas para compor o cenário. Um representante do Ministério da Saúde foi escalado para dar peso ao ato. Nada disso foi suficiente para garantir o mínimo: um público que justificasse sequer o discurso do governador. O resultado? Silêncio no palanque. A fala de Elmano foi cancelada por falta de plateia.
O local escolhido não poderia ser mais simbólico: Juazeiro do Norte, reduto político do ministro Camilo Santana, homem forte do governo Lula e articulador influente no Ceará. A cidade que já foi vitrine eleitoral do PT agora parece dar sinais claros de esgotamento com a política tradicional — ou, pelo menos, com a forma como tem sido conduzida a comunicação entre governo e povo.
A pergunta que fica é: o que deu tão errado?
Em primeiro lugar, parece evidente que a gestão subestimou o desgaste que vem se acumulando nas bases. O povo cearense, como muitos outros pelo Brasil, está mais crítico, mais atento e menos disposto a participar de atos meramente simbólicos. A política de palanque, com grandes estruturas e promessas de programa, já não tem mais o mesmo apelo quando a realidade nas filas de espera por especialistas continua difícil.
Em segundo lugar, é preciso reconhecer um erro de leitura de cenário. A ideia de que Juazeiro seria um terreno político fértil por causa do vínculo com Camilo Santana pode ter se tornado uma armadilha. A presença do ministro em Brasília não se traduz automaticamente em aprovação local para os aliados. A máquina não tem mais o poder de outrora. A confiança precisa ser conquistada, não apenas convocada.
Por fim, o episódio escancara um desafio de imagem para Elmano: o governador ainda não conseguiu se firmar como liderança popular no interior. Seus atos continuam marcados por um certo distanciamento. Falta calor humano, proximidade, escuta verdadeira. O povo não quer só promessas — quer ser parte do processo.
Ignorar esses sinais é um risco. Eventos como o de Juazeiro não são meras gafes de agenda. São sintomas de algo maior: um governo que pode estar perdendo sua conexão direta com a base popular. E, em tempos de redes sociais, desmobilização silenciosa é um grito alto.
O governador e sua equipe precisam parar de mirar a performance e começar a ouvir. Caso contrário, correm o risco de continuar discursando para palanques vazios — literalmente.
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